Capítulo 1: A Cantiga de Zalgo.
Zalgo, aquele que espera por trás das paredes
Zalgo, aquele que sussurra no porão
Zalgo, aquele que tece redes na escuridão
Zalgo, se o bem diz sim, Zalgo diz não
Zalgo, se é luz na forma do bem, na de Zalgo é sombra
Sete bocas, seis vozes, e a voz que trará o fim
Aramaico, copta, cuneiforme, frâncico, grego e latim
Zalgo, por que mataste Am Dhaegar, Zalgo, por que destruíste o seu mundo?
Não destrua o nosso, não venha enfim
Zalgo, um deus remanescente de Nezperdia, era o mais puro caos que nasceu no reino que habitou antes de, amargurado, irritado com o amor de Am Dhaegar e a pressão dos Nezperdianos, convocou guerreiros a partir de mortos que ficavam presos na escuridão do reino, e a partir das ruínas de Nezperdia, o pouco da luz e da matéria se espalhou na entropia, se tornando os planetas e estrelas, e o porão de cristais Nezperdianos do castelo então se tornou o seu Palácio de Vidro, num reino escondido na adimensionalidade.
No meio dos monstros que Zalgo criou depois da decomposição do mundo, apelidada então de Big Bang, muitos foram à Terra pois, havendo humanos ansiosos e movidos por crenças instintivas, era mais fácil de "brincar" com eles, enviando seres como desafios, ou alterando a realidade pra afetar os avanços da humanidade, e então, um dos mais bem-sucedidos era o Rastelo, "The Rake".
Capítulo 2: Os Rastelos. Os Rastelos são como bichos-papões, eles não se parecem com nenhum animal na natureza, e nunca houve contato com esses seres para descobrir que são sequer algo físico, a pele é pálida como se fosse luz lunar, os olhos de escuridão pura se destacam naquela forma, isso quando eles são vistos. Esses seres podem enganar e hipnotizar as suas vítimas, fazendo barulhos com as garras na cama, ou fazendo os móveis se mexerem, para antes de devorar suas vítimas, atormentá-las, pois a adrenalina melhora as condições da carne, e uma mente desestabilizada é mais fácil de mastigar.
Ruas, esgotos e casas velhas são abrigo comum dos Rastelos, levando humanos a começarem um extermínio desses seres em 2004, que durou de 20 de Fevereiro a 4 de Abril, 40% da população desses seres e 11% da mortalidade no estado de Wyoming foram reduzidas por causa desse evento, balas de chumbo não eram suficientes devido à alta resistência física, porém, balas especiais forjadas em prata, que acreditava-se que abateriam outros demônios noturnos, podiam atravessar e derreter a pele daqueles seres, e em meados dos anos 2010, esses seres, embora não extintos, deixaram de ser um problema.
Capítulo 3: Ted e Tim.
Os irmãos Ted e Tim Wright, no ano 2001, souberam que uma prima mais nova esteve desaparecida desde a última semana, e procurando voluntariamente resolver o caso, acharam que ela estaria em uma caverna que eles costumaram explorar antes, porém, visitando ela, estava mais úmida e fria que o normal, e tinha uma abertura nunca antes vista, que era fina e esteira, Ted tentou furar aquela abertura para que ficasse maior, mas aquilo levou dias, e não podiam ficar muito tempo lá antes de voltarem pra casa, e Tim, que estava fazendo uma faculdade na cidade, buscou gravar a situação em que estavam para poder usar como seu TCC.
O VHS que ele estava usando era péssimo, a câmera muito velha, e o lugar sendo escuro piorava, por mais que Ted tenha tentado ajudar carregando uma lanterna, e mesmo que se via possível entrar no furo da caverna, a risada fina, similar à de uma criança, dava uma mistura de alívio em saber que estavam mais próximos de terminar o pesadelo, e a preocupação em descobrir que tinha alguém vulnerável em um espaço que só ficou disponível minerando, Ted insistiu que Tim entrasse, porque tendo a câmera nas mãos podia registrar a cena, mas Tim preferia que o Ted, sendo mais baixinho, entrasse no lugar e coubesse mais.
No entanto, quando Ted aceitava, rochas caíam próximas da entrada, Tim tentava correr para fora, mas tropeça e tem seu braço direito preso por uma das rochas, ele tentava tirar dali, mas ele falava pro Ted "fazer sua parte", entrando no túnel estreito, cinzento e escuro, enquanto Tim, sem se sentir tão esperançoso, se gravava com a câmera velha de seus pais, e narrava.
"Oi, aqui é o Timothy Wright, 17 anos, eu e meu irmão Theodore tentamos achar nossa prima, que está desaparecida faz dois meses, se a gente não sobreviver, eu espero que pelo menos ela consiga, porque se perderem nós três é prova de que não há uma força boa e onipotente nesse mundo, Betty é só uma criança, ela não merecia isso que aconteceu"
Ted tenta entrar na caverna, passando pelo túnel, seu peito rasgava junto com sua camiseta, ele chorava, não de dor, mas de desespero, e quando ele caía em um ponto, ele ficava preso, e a risada misteriosa agora ria sadicamente, enquanto Tim sumia, como se fosse dissolvido na escuridão.
Capítulo 4: Jack
O Operador habita a floresta, o Operador habita a escuridão, o Operador é um dos primogênitos de Zalgo após a formação atual do universo, e diferente daqueles que habitam ambientes na Terra, o Operador transita entre a Terra e a Arca Negra, captura os mais novos pois eles já têm a mente modelável pra seguirem suas ordens, e basta conceder seu sangue pra torná-las em seus seguidores, já os mais velhos ele precisa necessariamente atormentar até que eles desistem e cedem às suas ordens, assim como Jack Sem Olhos.
Jack era um mero adolescente afro-americano que sofria bullying nos anos de 1974 a 1979, seja nas ruas pela sua etnia ou nas escolas por nunca se destacar nem em força e nem em inteligência, e no ano de 1987, aos 19 anos, foi capturado por um grupo de integrantes da Ku Klux Klan como um sacrifício, e nesse dia, o massacre não veio contra o agora adulto Jack, mas sim contra aqueles que tentaram lhe fazer mal uma última vez. Aquela criatura que devastou tudo não se importava com os humanos, não por se sentir superior a eles, mas sim porque, sabendo da magnitude do universo, desde os maiores buracos negros às menores ondas quânticas, não fazia sentido seres de uma mesma espécie perseguirem seus subgrupos por associarem diferenças visuais a inferioridade evolutiva, e deu uma chance a Jack em troca de trabalhar pra ele até seus últimos anos de existência. A Arca Negra, segundo Jack e Tim, era como um reflexo da Terra que nunca viu a luz do Sol, a arquitetura era composta por uma madeira negra conhecida apenas como Endebônio (algo como Ébano do Fim), e os olhos dos habitantes, que trabalhavam como espiões do Operador quando saíam da Arca, brilhavam como lanternas de um peixe-diabo, e quando Jack questionou ao Operador o que eram os sussurros do fundo da Arca Negra, ele só respondeu:
"É o máximo que humanos conseguem falar após a morte, e você estará livre desse tormento sob o meu paletó"
Capítulo 5: Para a Arca.
Um homem de cerca de 35 anos entra num bar chamado Jackie Wine, um tipo de bar especial que teve recentemente, assim como alguns relatos de desaparecimentos na cidade, e consultando o dono do bar, ele aceita preparar um coquetel especial pra ele, chamado Entrada, que se mostrava amarelado, de cheiro amargo agridoce, e que refletia brilhos azuis e vermelhos do bar, o tal "Jackie", de pele azul que ele dizia ser meramente maquiagem, um terno sob medida e acompanhado de pessoas pálidas que operam como garçons e assistentes, ainda parecia suspeito por aquele homem, um policial enviado pra consultar o bar, ele inicialmente achava que houvesse algo de errado naquela Entrada, mas estranhamente, além do homem não sofrer nada além do amargor de uma bebida normal, ele queria mais bebida, porém, Jackie só oferecia vinhos comuns, pois o coquetel era apenas servido no começo do atendimento. Mentindo que a missão vai ser adiada porque faltavam provas, o policial tenta ir ao Jackie Wine mais uma vez à noite, e quando ele voltava a tomar a Entrada e os vinhos, noite após noite, um dia ele foi abordado por seus superiores, e avisado que, se esse bar for realmente suspeito, eles deverão invadir logo sem disfarces ou espionagem, e assim quando tentaram invadir no dia seguinte, à noite no mesmo horário que o policial visitava, não havia nada, pelo contrário, era tudo mais escuro e preenchido com aparelhos metálicos assustadores, e quando eles tentaram sair pra fugir da Arca Negra, onde pararam, eles só se viam num lugar de fora da sala específica, mas na mesma dimensão, enquanto os tais atendentes de Jackie os cercavam, carregando Rastelos como um equivalente deles a cães ferozes, e então, a carne era devorada, e a forma era dissolvida.
Depois do policial saber do desaparecimento de 10 membros de sua antiga equipe policial, ele se demitiu e se viu dessolado, sem esperanças, e Jack Sem Olhos, uma última vez, entrega uma garrafa do seu whisky de maior qualidade, que o homem bebe como se fosse água, ele não se sentia bem, ainda mais depois de beber de barriga vazia, mas Jack se oferece pra avisar uma última coisa.
Jack: Você se mostrou um dos meus melhores clientes até agora, mas quem sabe você não deveria trair seus companheiros desse jeito, quantas vidas você acha que vão sumir desse jeito?
Policial: E-eu não sei, por que você se importou de dar essa garrafa como uma cortesia? É misericórdia? Consideração de amizade?
Jack: Não, na verdade, você ainda tem uma lição pra aprender.
Quando Jack mostrava seu rosto que, no lugar de olhos, havia uma escuridão que aparentava sugar a visão daquele pobre policial, o mesmo homem "acordava", se enxergando numa banheira cheia de água gelada e blocos de gelo de diferentes tamanhos, e ao seu lado, um cheque protegido num saco plástico, e o seu celular, e quando ele foi ver a fonte das dores na sua barriga, ele via um lado com um corte muito bem costurado, e quando arriscou cutucar, sentia algo faltando, o Jackie vendeu um dos rins como punição, enquanto o deu um cheque do preço como segunda chance.
Fim?