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9 de nov. de 2024

Necronomicon: Como criar um grimório proibido

 Eu lembro que fazia cerca de uns 5 a 7 anos que eu assisti a uns vídeos prometendo que o Necronomicon existia ou que com ele seu portador teria um poder elevado sobre a magia, ou que esse livro seria só um mistério, acho que é porque antigamente a gente era adolescente e achava que qualquer porcaria que falavam pra gente era uma verdade secreta ou perdida, algo parecido com vampiros ou "mensagens subliminares da Disney" (que pelo que eu vi os vídeos originais sumiram e só sobraram os reacts), mas conforme passava o tempo isso foi desmistificado e eu também comecei a ouvir falar do contexto desse livro.

 Hoje em dia o Cthulhu é claramente um dos monstros mais populares da cultura pop, mas uns poucos anos atrás esse bicho era até que underground (eu lembro que quando era adolescente só conheci por causa do Terraria), eu lembro de quando eu assistia a alguns canais de terror como Explorando Segredos e Mistérios, e um dos monstros que eu mais gostava de ouvir sobre era o Cthulhu, não por história ou poderes, mas por eu simplesmente ter achado uma das coisas mais maneiras que eu podia encontrar, já que era um monstro gigante com corpo humanoide, cabeça de polvo e asas de morcego, e eu já gostava de criaturas como o Kraken e dragões.
 Eu não assistia a vídeos com jumpscares (inclusive odiava o canal Ambu porque a parte mais "assustadora" eram os jumpscares que eu só queria pular pra ver, por exemplo, os youtubers contando relatos deles) e antigamente os canais de terror eram péssimos em terror psicológico, muitas vezes contavam como se fossem quase contos de fadas de tão fantásticos, alguns narradores tinham até uma voz fina demais pra algo que era pra ser intimidador, como o MysteriumTV (apesar que eu goste desse canal), mas eles tinham ainda assim muita imersão, e o medo que eu tinha era se esses monstros, demônios e alienígenas fossem reais e pudessem me devorar, ou que alguma coisa sobre os jogos que eu jogava fossem canônicas e deixavam o jogo mais trágico (como a creepypasta que o Hypno devorava as crianças que hipnotizava ou que o Raticate do Blue morreu)
 Tudo isso é o contexto para explicar como toda essa imersão e crenças faziam as histórias de terror mais mal-contadas ficarem tão macabras, por elas parecerem algo que existiu e ninguém sabia, assim como o Cthulhu é um dos contextos pro Necronomicon que é o motivo principal desse blog, por ambos serem criações bizarras de Lovecraft, que sobre ele ter sido muito racista já é outra coisa muito falada sobre ele, e bem como o Quadrinhos na Sarjeta disse uma vez, realmente, parte do racismo de Lovecraft ajudou em alguns conceitos como muitos dos seres serem muito bizarros ou perigosos por serem de fora do nosso espaço e controle, como A Sombra Sobre Innsmouth, que além de falar sobre uma cidade portuária afastada ainda na Terra, também tem um pouco de miscigenação, embora com criaturas.
 No entanto, o folk horror (em que o terror é baseado em algum povo tradicional ou distante e sua própria cultura) e o terror de monstros não têm a ver necessariamente com o racismo, mas o folk horror é baseado justamente em tradições que podem ser ou soar perigosas, ou sobre como povos que a gente pode ter encontrado tem motivos pra terem segredos ou manterem suas tradições, como o filme Homem de Palha de 1973, assim como os terrores mais conhecidos são esses de criaturas assustadoras, desde mitologias antigas, o que deixa mais assustador quando criaturas cruéis têm suas próprias sociedades, como os orcs em Senhor dos Anéis ou os vampiros em histórias de fantasia moderna.
 No fim, o Necronomicon foi um resultado desse gênero do terror cultural, com criaturas malignas em lugares distantes e elementos que fogem da compreensão, pelo menos na compreensão do homem cristão ocidental médio, como múltiplos deuses, forças científicas tão avançadas que nas mãos de humanos parecem poderes, e civilizações diferentes que foram extintas ou tão escondidas, assim como o próprio autor do Necronomicon é o árabe louco Abdul Alhazred (inclusive esse "Alhazred" seria considerado um nome impossível no vocabulário árabe muçulmano, e o certo seria "Al-Hazrad", embora etimologicamente possa ter algo a ver com "Hazard", um termo pra aviso de perigos à saúde), e Necronomicon na verdade é um nome grego para Al Azif, cujo "Azif" era uma palavra arábica para barulhos de inseto ou algo que era acreditado ser uivo de demônios.
 Infelizmente, Abdul teve uma morte extremamente violenta, estraçalhado por um monstro invisível em público sob plena luz do dia, aterrorizando muita gente no processo, não se sabe o que aconteceu com os testemunhas, mas há a entender que o monstro só atacava aqueles que conseguiam o ver ou sabiam da sua existência. Mas falando em monstros, o Necronomicon teve vários feitiços que envolviam ressuscitar os mortos, viajar entre dimensões e invocar esses seres para servirem favores ou realizar desejos, e por isso, muitos desses feitiços podem incluir também controlar o espaço-tempo, seja pela natureza anormal dos feitiços que controlam as leis da física no universo ou por envolver invocar seres com esse poder, como o Yog-Sothoth, o deus do tempo e guardião das dimensões.
 O livro Necronomicon é ilustrado sempre como um livro de páginas bege com desenhos realistas macabros juntos de escritas incompreensíveis (o que acho paia, o livro foi escrito na Terra e teve traduções em árabe, grego, latim - que já é uma língua bem macabra - e até espanhol; mas isso de ter um idioma próprio ainda concordo que dá um medo e vai combinar com algo que falarei depois), e a capa feita de uma cara humana (o que eu queria entender ao menos qual é o dono dessa pele, o cara é mais esquecível que a Gwen Stacy; mas pelo que parece isso foi popularizado pela reinterpretação do Evil Dead, em que a capa e páginas são de pele e as letras são de sangue, o que ao menos dá a entender que não foi só uma pessoa, e sim várias), e hoje em dia essa parte da necromancia e magias dimensionais tá cada vez mais difícil de achar em representações atuais, retratando como se fosse um livro de magia muito forte, o que me irrita justamente pelo Necronomicon ser feito pra ser um livro proibido, e necromancia é uma das magias mais macabras que pode ter na história das civilizações e também em RPG's.
 Um momento pra continuar isso das representações atuais do Necronomicon, que foram baseadas em Evil Dead, eu acho preguiçoso todo esse esforço pra escrever as páginas inteiras com essa língua alienígena pra soar "Eldritch", não só considerando o que eu falei do Necronomicon ser escrito em idiomas inclusive bem comuns, mas também porque tá bem na cara que eles não queriam esforço algum pra escrever o que o Necronomicon teria pra ensinar, como taumaturgia e cosmologia, além de alguns desenhos parecerem que foram feitos só pra chocar as pessoas, como esses sigilos (apesar que sigilos podem ser desenhados e escritos de forma estranha, mas são sempre feitos pra soar visceral ou das trevas), esses rostos de zumbis sem contexto, ou nessa página tendo simplesmente um cara parecendo que tá dando o olho (lá ele rs) pra uma criatura na terra. Essa do idioma bizarro até me lembra aquela cena do Cada Um Tem a Gêmea Que Merece, em que os personagens falam um idioma nada a ver e sem tradução pra não ter que elaborar algo coerente usando uma escrita de verdade, mas ainda lembra um pouco isso aqui abaixo.
 O Manuscrito de Voynich é até hoje um livro indecifrável que, pelo que há a entender, havia todo um catálogo sobre botânica ou medicina, rituais (considerando as ilustrações que envolvem pessoas) e astronomia (tendo até o que há a entender uma ilustração da Via Láctea), mas que não pudemos reaprender o que foi escrito nunca teve uma tradução oficial e também não houve nenhuma pista do que podia ser interpretado. E aproveitando que tô falando sobre esse livro, esse e outros da mesma época já foram feitos de pergaminho, no caso um tipo de papel feito de pele, geralmente de ovelhas/carneiros, vacas/bois/bezerros e cabras/bodes, o que não deixa tão impossível a ideia de papéis feitos de pele. E falando em pele, mesmo que isso ajude a assustar por, afinal, assim como a necromancia, tá mexendo com a morte e coisas do corpo humano, a ênfase na carne não é necessária.
 O Museu das Almas do Purgatório é um museu de 1917 em Roma, Itália, que retrata tanto pinturas quanto livros e outros tipos de materiais que contam sobre a Morte, como ilustrações do pós-vida ou artefatos que tiveram um certo "contato" com os mortos, como essa tábua e outros produtos que tiveram essas manchas de queimaduras em forma de mão. Muitas vezes, o que falta em representações modernas de conhecimento proibido, ainda mais os que falam sobre a morte, precisam também tocar nos assuntos espirituais e morais, não só por algo como paraíso, inferno e essas magias de morto que dá pra achar até em RPG engraçadinho, mas algo parapsicológico, como espíritos e poder espiritual, assim como em mitologias antigas a morte tem seu peso intensificado pela jornada dos espíritos, ou seres mais fundamentais, como os deuses, se comunicam nos sonhos, algo que também envolve o espírito e inclusive foi inspiração pra profecias e símbolos, como as profecias de José (filho de Jacó), as feras contadas por Daniel (o profeta que ficou amigo de leões) ou o Chi Rho (ou Cruz XP) do Imperador Constantino.
 Símbolos religiosos podem ter diferentes quantidades de detalhes, o que inclusive precisaria de uma publicação inteira sobre isso, então pra facilitar pra vocês, > aqui < terá um link sobre uma variedade de símbolos, o que quero dizer nessa parte também é que símbolos, como os sigilos, quando são todos detalhados ou bizarros mas sem uma explicação, ficam simplesmente sem sentido, como aqueles mostrados no Necronomicon de Evil Dead, enquanto há símbolos sagrados que são muito simples ou têm apenas detalhes "suficientes", mas seus significados são muito ricos, e só são detalhados quando todos os detalhes têm seus significados, enfim, isso no fim envolve parte da arte abstrata, em que temos o formato base (ou "forma", que por sua vez esse termo também pode ser usado como "conceito") e precisamos completar com o significado da obra, muitas vezes a pintura ou figura.
 Isso resume parte da recapitulação e como os pontos estão ligados, mas a minha maior conclusão sobre o Necronomicon ou Al Azif é que, sendo um grimório (um livro de feitiços, encantamentos e rituais), precisa ter seu sistema mágico, teológico e cosmológico pré-estabelecidos e consistentes, seja para ligar os pontos desses elementos, como quais magias se ligam a quais deuses, ou a importância dos deuses e monstros pro universo, ou como essas magias afetam elementos e leis da natureza, e também como essas magias podem impactar positiva e negativamente a vida das pessoas, assim como, sendo um elemento para um conto de terror, deve no mínimo ter seus mistérios à medida certa, nada tão exposto mas ainda dando brecha pras pessoas "estudarem" o que essa história oferece, também deve trazer diferentes sentimentos negativos também pela imagem pois o susto ou o nojo não são tudo, e mesmo que esteja claro que é um material fictício, é necessário trabalhar para que isso soe ou seja ameaçador caso existisse, ou tenha detalhes que aumentam as chances de poder existir.

O conto de terror Calada da Noite que eu escrevi pro Halloween eu mesmo escrevi com base nessa trindade do terror como o que eu citei no mapa mental acima, escolhi o folk horror justamente por esse mistério de um lugar tão diferente, o desconforto dos relatos e da lenda, e também a narração em primeira pessoa foi feito pra que vocês leitores se sentissem na pele do narrador, que por sua vez eu nem decidi um nome, assim como nenhum personagem humano ali tinha um nome e a vila não tinha um nome, poderia acontecer com qualquer um em qualquer lugar, mesmo que monstros não existam, é perigoso ficar isolado nas ruas, é perigoso andar sozinho à noite e eu pude unir a ideia de fantasmas e lobisomens num mesmo ser, e o final em aberto é justamente pra aumentar essa ansiedade, se não tinha fotos feias pra chocar e nem vídeos barulhentos pra fazer jumpscares, isso fica melhor ainda, com "palavras assustadoras" que te guiam pra entender um mundo assustador e inseguro.

Até mais!