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Homem-Aranha: O Herói de Todos os Públicos

13 de set. de 2025

Ciência de Vitrine

 Terminei uns contos que eu planejei pro Projeto Dream, incluindo um cujo terceiro ato envolvia leis da física complicadas como base para armas muito poderosas, e isso me fez parar pra pensar sobre Dino Crisis e Sequência Xeelee, e o quão discrepante é a diferença, pode ser overkill comparar um jogo feito só pra ter ação, terror e dinossauros monstruosos e um livro que combina ficção científica extremamente complicada, sofisticada e uso suficiente do realismo (hard science) com camadas de uma crítica social moralista pesada, mas a diferença de como eles tratam os MacGuffins tecnológicos e científicos é muito triste.
[Usei essa fan art minha porque não achei nenhuma arte dos Xeelee além de capas de livro, fan arts de outras pessoas e páginas da Fandom do livro porque é uma franquia MUITO underground que só tá ficando minimamente conhecido porque puxa uma vibe grimdark com ficção científica com o Warhammer 40k que estourou de popularidade com jogos e o Duna que estourou de popularidade com filmes e o Tim Chamalet atuando como o protagonista]

 Antes de tudo, vou explicar o foco principal desse post: Ciência de Vitrine.
Se a Ficção Científica é dividida entre hard science ("mais científico" resumidamente) e soft science ("mais fictício", ainda que ambos sejam científicos e é necessário ter seus elementos explicados com uma certa lógica), vocês já devem saber, o problema é um risco que ficções científicas soft sofrem que é o erro sério de fingir se identificar como hard science, vamos falar primeiro da Widowmaker de Overwatch.
 Essa personagem é popular por ser gostosa e uma personagem boa de usar no jogo, mas o foco é a justificativa do design dela: Ela é roxa por consequência da modificação física que faz o coração dela ser mais lento, deixando ela mais forte e roxa, o problema é que... Sendo sincero, eu vou me sentir tipo o Nerdologia do Velho Testamento (que era um canal de nerd chato e ateu de Reddit que tenta pagar de ser mais inteligente por falar pelas 666ª vez que alguns poderes só seriam possíveis em ficções), mas é algo bem necessário.
  1. O coração bater menos, e o corpo ficar bem, não fortalece necessariamente ou diretamente, e sim deixa o metabolismo mais lento, fazendo perder menos sangue ou qualquer toxina ter menos tempo de agir que o sistema imune, assim como animais com esse metabolismo vivem mais por serem maiores, com mais matéria e mais resistentes, com as células mais duráveis, ou animais com o corpo menos sobrecarregado (por isso cães menores que vivem mais, mas ao mesmo tempo os elefantes e as baleias são os mamíferos que mais vivem), e um dos custos é que o animal é mais pesado ou com menos energia, e por isso seria impossível a Widowmaker ser tão ágil como é, não só em jogos, mas também em cenas e animações.
  2. Assim como o que deixa partes do corpo roxas não é o sangue circulando menos, mas a falta de oxigenação, por isso que feridas que ficam roxas são onde tem calos ou hematomas, e não quando algo do corpo foi furado ou cortado, e é só em partes específicas do corpo, como as extremidades, e não no corpo inteiro.
 Se fosse, por exemplo, ela ser modificada por algum soro, mas por reação colateral ela ficou roxa porque algo afetou a melanina dela, seria mais convincente. Soa estranho questionar isso enquanto temos no Overwatch androides, um gorila falante e umas tecnologias que simulam até mesmo manipulação de matéria, mas essas tecnologias e esses seres já dá pra ver que é possível pela ciência do jogo, já o caso da Widowmaker me irrita por tentar ser o que não é: Realista. Por isso usei isso como introdução pra explicação seguinte, que é a Terceira Energia.
 No universo de Dino Crisis, a causa dos dinossauros não foi algum projeto de dinossauros artificiais que deu errado (que começou pelo livro de Jurassic Park, que pelo que entendi resumidamente oscila em ficção científica especulativa, com um tipo de parque que criou dinossauros pra ser tema daquela instalação, e o suspense quando isso dá errado, que o Spielberg dirigiu a adaptação em 1993 e inspirou aquelas figuras de dinossauros reptilianos que todo mundo conhece), mas a viagem no tempo que trouxe eles pro passado, até aí algo um tanto mais interessantes, mas tem alguns problemas, que vou explicar primeiro a causa (a Terceira Energia) e só depois os dinossauros.
  • O nome não faz sentido, já que não há só "dois tipos de energia", assim como o jogo explica que surgiu como uma opção depois da termoelétrica e da nuclear, então o nome deveria ser Third Source (Terceira Fonte) e não Third Energy (Terceira Energia), tanto que quando eu via vídeos do Gusang (Assoprafitas) sobre esse jogo, eu entendi errado e achei que era Dirty Energy, que... considerando que o jogo foca na falta de ética e manipulação ambiental dessa energia, combinava muito mais.
  • Também não são só duas fontes de energia nem na época do jogo, já que desde antes da energia elétrica ser usada domesticamente era comum gerar ela com energia mecânica (basicamente girando as turbinas com a própria força, podendo existir bicicletas cuja lanterna é movida por isso), e se eles pesquisassem mais um pouco saberiam de usinas hidrelétricas (que desde essa época eram comuns e inclusive reaproveitam barragens usadas pra conter água pras cidades) e painéis solares nem eram invenções tão recentes, o que deixa o nome de ser a "terceira" fica muito reducionista, assim como infelizmente nem dá pra culpar muito isso porque só nerds chatos sabiam que usinas termoelétricas usam muitos sistemas de turbinas impulsionadas pela queima do carvão (da mesma forma os motores com seus pistões) e que usinas nucleares não eram de ligar uma tomada numa bomba atômica (falei exagerando e zoando isso, mas é realmente criticando como era basicamente esse o raciocínio dos anos 90).
  • No entanto, tem a origem da Terceira Energia, que era pra ser uma opção mais limpa que as duas outras fontes de energia e só precisaria... ionizar a atmosfera diretamente (vou nem me enrolar muito, isso é simplesmente algo que uma bomba atômica, nuclear, termonuclear e de hidrogênio fariam, assim como fazer um tipo de eletrólise da atmosfera, mesmo a um alcance seguro, gastaria mais energia que geraria).
 Fora isso, assim como critiquei como o pessoal achava que eram energias nucleares, também tem a questão de como o pessoal achava que seriam todos os dinossauros, porque antigamente já tinha uma ideia que os dinossauros têm parentesco evolutivo com pássaros, a questão é que demorou mais pra explicar que os T-Rex e os Velociraptors eram praticamente galinhas primitivas, ninguém sabia o que caralhos era um Archeopteryx (mesmo já descoberto desde o século XIX), e tem gente até hoje que acha que o dinossauro canônico era o Brontossauro ("lagarto trovão", um saurópode conhecido) e não o Apatossauro (que foi montado com um corpo de Brontossauro e cabeça de Camarassauro, mas aparentemente nem os arqueólogos leem livros de arqueologia, e fazem um malabarismo falando que o Brontossauro que não existe e que o que existe é o Apatossauro mas com outra cabeça, inclusive desde criança eu percebi que canais "de curiosidade" que repetiam essa informação como papagaio de vó nem se tocam da própria contradição, é tipo o professor de biologia falar que leões não existem e que os animais de verdade são as quimeras mas que têm patas de outros grandes felinos, deu pra entender como não faz sentido e é só a pessoa repetindo erro de uma autoridade científica muito mal-contextualizada?).
 Sem falar que a Terceira Energia em Dino Crisis sendo fonte da viagem no tempo não faz sentido, porque ela não foi definida como uma energia temporal, e nem usa alguma explicação xexelenta de como a eletricidade abre portais do tempo nesse universo, simplesmente colocam que "gera tanta energia que rompe o tempo" (resumindo muito, mas é basicamente isso), sem falar que na história os integrantes da empresa responsável por essa tecnologia viajam no tempo pra coletar recursos e, obviamente, por viajarem pro tempo Cretáceo, trouxe um monte de dinossauro cretáceo pro presente, mas se for pensar de mais, um ataque de dinossauros (que falando nisso me lembra aquele analog horror, Prehistoric Emergence) é o de menos considerando que eles tariam colocando o universo em risco de tanto paradoxo temporal que isso era pra causar (sem falar que poderia facilmente ter patógenos pré-históricos que dariam muito mais problemas pra humanidade que um ataque de dinossauros). Dá pra ver como que, sabendo das coisas, dá pra além de achar um monte de erro num roteiro furado, também criar ideias mais complexas e criativas?
 Em comparação, vamos falar um pouco de Sequência Xeelee, ou pelo menos o pouquíssimo que eu vi sobre: Essa história envolve, entre as civilizações, os Xeelee e a Humanidade, que ambos têm tecnologias que simplesmente militarizam desde o controle de Forças Fundamentais (as conhecidas gravidade, forças nucleares forte e fraca e o eletromagnetismo, sem falar que foi descoberta a força eletrofraca (força fraca/decaimento nuclear + magnetismo) na vida real, e é teorizada a GUT, ou Teoria de Grande Unificação (força fraca + força forte + eletromagnetismo, e que uniria essas forças como uma única e associada à matéria e energia comuns no Big Bang), que por enquanto é só hipótese pra gente, mas nessa ficção científica é usado inclusive pra armas e motores) a criar um ambiente em que leis da física são um tipo de seres vivos.
[Perdão o momento "memes que" acima, é que já é cansativo ler textos tão longos, então imagina logo se eu mandasse mais, entre as fotos ilustrativas, ainda mais trechos textuais da lore que tô falando só pra provar que eu não tô ficando maluco]
 Tirando essa parte que falei, de criarem um ambiente de seleção natural entre teorias vivas, ou eles poderem diretamente controlarem universos sintéticos, que realmente é do tipo "é uma tecnologia tão bizarra que parece mais mágico que o poder de um deus de mitologia, mas tem seus motivos dentro dessa história", realmente boa parte das tecnologias mais avançadas e até mesmo cabulosas ainda assim envolvem teorias reais, como eu falei da GUT, mas tem também coisas como:
  • Curva Tipotemporal Fechada: Isso é tão complicado que explico depois abaixo pra ficar menos apertado.
  • Monopolos Magnéticos: Partículas de um só polo (podendo ser Norte/positivo ou Sul/negativo), que seriam do tamanho de léptons (classe do elétron, pósitron e múon), nesse universo é usado pra armas tão fortes que distorcem o espaço.
  • Gravastar: Imagina um buraco negro, mas em vez de ser a singularidade, o núcleo seria um vácuo extremamente denso, onde só teria matéria estranha (quando, em vez de ser um bárion puro, de prótons (quarks up, up, down) e nêutrons (up, down, down), seria um bárion de quarks up, down, strange) e energia escura (um tipo de energia detectada no vácuo puro do espaço junto com a matéria escura, e que teria influência na expansão do universo). Na Sequência Xeelee eles criam escudos usando esse tipo de vácuo de estrela negra.
  • Relatividade e Mecânica Quântica: Explicar um resumo de ambos porque tem uma física temporal na Sequência Xeelee que usa ambos. A Teoria da Relatividade buscou explicar como funcionam a velocidade da luz e como o espaço-tempo reage de forma diferente sob velocidades e gravidades diferentes (assim como o tempo é instantâneo pra velocidade da luz que é absoluta, e o tempo simplesmente não funciona na singularidade do buraco negro pois é tanta que desacelera e absorve a luz)(também tem a ver com a curva tipotemporal, pois objetos mais rápidos ou sob maior gravidade têm o tempo mais acelerado), e a física quântica envolve, entre suas principais pesquisas, partículas subatômicas e probabilidade (assim como a realidade só é definida quando ela é medida, e só de você estar presenciando ou observando você consegue medir pelo menos a parte superficial). Nas viagens no tempo, elas sempre dividem o universo em uma linha do tempo separada (tipo Dragon Ball), independente do universo remetente, mas em vez de usar o clichê de teoria de vários mundos ela é fruto da relatividade e sobreposição.
 Sobre as Curvas Tipotemporais, na relatividade qualquer objeto com massa afeta o espaço e também o tempo, o que é comparado a uma curva (a mesma explicação das órbitas de planetas, mas agora numa escala que inclui desde os menores objetos), já a Curva Tipotemporal Fechada, imagina o seguinte: Alterando o tecido temporal, você separa o tempo que você tá curvando do tempo do resto do mundo, criando um tipo de bolha temporal, esse efeito pode ser aplicado, não necessariamente só pra parar ou avançar o tempo, mas seria uma explicação pra viagens ao passado, daí a associação atual de viagens no tempo a buracos de minhoca.
 No universo da Sequência Xeelee, a viagem no tempo é necessária pra viagens espaciais, especificamente pra elas serem instantâneas, e inclusive isso pra mim é até mais simples e direto que o clichê de Hiperespaço, que é de usar uma dimensão com leis da física mais maleáveis, sendo que algo que gente que repete a mesma coisa que "ah, a luz leva milhões de anos pra ir de uma estrela a outra...", sendo que velocidades mesmo abaixo, mas próximas da luz, podem alcançar esses espaços em no máximo meses, enquanto o tempo pra luz (que não tem massa e a velocidade é absoluta, não tendo um "rastro" temporal) é instantâneo, a luz não demora anos pra alcançar, é que a distância das estrelas e planetas, usam como referência o c (velocidade da luz), inclusive hoje em dia a unidade de kg tem sua fórmula matemática (Constante de Planck, também usando velocidade da luz como base, que resumindo, é o reverso do E = mc² do Einstein) e atualmente tem seu próprio referencial (antes usavam baldes d'água pra terem referencial do kg, pois surgiu durante a Revolução Francesa, que aboliu o sistema imperial no país, que antes usava libras, onças, pés, polegadas, etc., que sempre usavam como referencial partes do rei, hoje em dia tem o Projeto Avogadro, a esfera de silício perfeita de 1 kg).
 Como eu disse, seria overkill falar de como Dino Crisis trata menos a ficção científica que o Stephen Baxter, afinal, um é uma franquia de jogos pra surfar no Resident Evil e no Jurassic Park, outro é uma sequência de livros ficcionais de um Dr. em engenharia, assim como a ciência de vitrine é digamos que uma armadilha exatamente pra quem tem suspensão de descrença de mais e conhecimento científico de menos, seja físico, químico, biológico, aritmético ou logístico, como eu falei da Widowmaker, mas tem algo que vocês não poderão discordar, que é o quão idiota era o plano do Professor Hojo de repovoar os Ancients (raça da Aerith) e a raça do Red XIII.
 Nessa subtrama o plano do Professor Hojo parece simples e genial na cabeça de um cientista louco de desenho antigo: juntar uma HUMANA com um BICHO (e como os protagonistas repudiam, não iriam doar sangue dos dois e montar um homúnculo ou quimera, o Hojo realmente iria colocá-los num momento furry pra criar uma raça de furries que iria repovoar os dois), e o bizarro é que o jogo trata essa ideia como "genial, mas com custos", "frio e calculista", e os protagonistas só como "cala a boca, você é o vilão! >:(" (um clichê que eu odeio muito, que é o vilão ser super eloquente com um plano estúpido, e o protagonista só puto com a ideia porque só pensa na parte emocional mesmo que o vilão também esteja completamente errado ou seja até mesmo o burro da conversa, e que esse cichê só acontece porque se o autor só criar vilões burros com ideias burras não fica interessante demais, vira moralismo, a mesma coisa o Thanos da Marvel ou o Anti-Spiral de Gurren-Laggan, mas não vou focar nele nesse blog), e nesse caso também combina com o que falo sobre Ciência de Vitrine junto com algo que envelheceu mal, porque essa subtrama tenta ser "científica mas cruel", mas quando a gente amadurece, inclusive os autores, só é nojento e cruel, e por isso não tem isso no remake.

Até mais!